segunda-feira, 24 de maio de 2010

Inclusão Digital: Desafios maiores que as simples boas intenções

Os impactos sociais da informática, conquista da ciência e da tecnologia, são capazes de levar a uma transformação maior que a da máquina a vapor. Uma sociedade baseada cada vez mais na troca de valores simbólicos, do dinheiro à informação, vai mudar o eixo da economia, acabar com o conceito atual de trabalho, valorizar mais que tudo o conhecimento e a aprendizagem. Neste cenário, os excluídos serão cada vez mais excluídos - com o poder se concentrando nas esferas virtuais (com profundo controle nas esferas reais) - a não ser que se implementem eficazes e massivas ações para promover sua "inclusão digital".
Na educação, a internet traz um potencial inovador ímpar, pois permite superar as paredes da sala de aula, com a troca de idéias com alunos de outras cidades e países, intercâmbio entre os educadores, nacional e internacionalmente, pesquisa online em bancos de dados, assinatura de revistas eletrônicas e o compartilhamento de experiências em comum. Este novo ambiente de aprendizagem, que não reside mais apenas na escola, mas também nos lares e nas empresas, traz novos desafios para os educadores, mais que nunca chamados a serem facilitadores e motivadores.
Como introduzir as novas tecnologias na escola, particularmente no ensino público, onde tantas outras prioridades se colocam? Estaremos aprofundando cada vez mais a clivagem social se não houver uma efetiva política que garanta o pleno acesso de todos às novas tecnologias. Num mundo em transformação, onde cada vez mais o computador é o veículo de transporte da mente e um instrumento essencial de trabalho, não podemos preparar as novas gerações para um mundo de subalternidade, tanto do ponto de vista individual quanto na perspectiva da nação.
No mundo do trabalho as coisas vão mudar bastante, também. Para quê ir até o escritório bater à máquina, se isso pode ser feito à distância, via modem? Poupando, assim, horas de deslocamento (deslocar a informação, não mais o corpo), a presença familiar mudará substancialmente. Nota-se, nas famílias que usam a internet no teletrabalho em casa, um resgate do ensino do ofício aos filhos. Mudanças, portanto, também no seio da família e do que entendemos por lar.
E o desemprego? Hoje, ao fazermos uma transação bancária no micro de nossa casa, estamos repassando para o usuário o trabalho que antes era feito por um funcionário. Em breve, estaremos comprando carros através de um conexão gráfica com a fábrica que, just in time, fabricará o carro que acabamos de desenhar no terminal. Novos desafios, portanto, para a sociedade. Novas formas de se repensar a distribuição de renda e assegurar o direito de todos os seres humanos à busca da felicidade do contrário, teremos um apartheid tecnológico como nunca visto.
Você é daqueles que nem se lembra em quem votou para deputado nas últimas eleições? Que tal votar agora em um para quem você possa escrever via e-mail e que o coloque a par dos projetos, que seja, enfim, seu representante no parlamento? E o que será do Poder Executivo se cada cidadão puder ter acesso, garantido em Constituição, aos bancos de dados e fizer cruzamentos das informações obtidas? Imagine a nova participação da cidadania se cada pessoa com insônia às duas da manhã for ver como estão sendo aplicados os recursos em sua cidade... O voto será eletrônico, sem boca-de-urna, cada um em sua casa? Novas formas de manipulação da informação irão surgir, é claro, mas o pesadelo que Orwell imaginou em seu "1984" será ao contrário, pois o Big Brother poderá estar sendo vigiado por milhões de olhos...

Por Carlos Seabra
Extraído de: http://www.cidec.futuro.usp.br/artigos/artigo6.html em 24 de Maio de 2010

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